terça-feira, 21 de julho de 2009

Geopolítica

A geopolítica é um estudo das relações entre os atributos naturais da geografia e a política dos Estado. É o estudo das decisões que o Estado toma com base na sua situação geográfica.
Lorousse define a geopolítica como a “ciência que estuda as relações entre os dados da geografia dos Estados e a sua política. A geopolítica exprime a vontade a guiar a acção dos governos em função das lições da geografia”.
Estas definições parecem de facto muito parciais. De um lado, nenhuma referência é feita à história e às suas largas tendências. Por outro lado, essas definições limitam a geopolítica às relações entre os Estados e a geografia, sendo esta última entendida na sua concepção mais limitada. Muito embora o raciocínio político deva negligenciar a repartição das terras e dos mares, as faunas do relevo, os cursos dos rios, ou mesmo a localização das florestas, deve também ter em consideração os factos culturais, bem como os factos resultantes da geografia humana, como a análise dos povoamentos, a extensão dos diferentes conjuntos étnicos, linguísticos, etc.
Para Colin S.Gray, a geopolítica deve ser diferenciada da geopolitik. Segundo ele, a geopolítica provém da Ciência Política, ou seja, da exploração das estruturas da política sem, necessariamente, defender uma acção política particular. A geopolitik engloba um vasto conjunto de escritos geopolíticos, mas o seu objectivo era a propaganda. Afirma, ainda, que a primeira virtude da geopolítica é a de focar a sua atenção nos factores permanentes e duráveis.
A geopolítica pode ser considerada como a política feita em decorrência das condições geográficas, daí percebe-se que, embora o contributo da geografia seja essencial em todos os seus aspectos, a geopolítica se tenha revelado no âmbito da política. De facto, foi Kjellen, politólogo sueco, que a baptizou como parte da política, duma geopolítica um tanto organista, claramente situada no campo político.
O estabelecimento de conexões entre a geopolítica e a geografia vem desde o tempo da antiguidade, embora não ainda conhecida como geopolítica. Na Grécia antiga, as observações produzidas por diversos observadores gregos não tiveram, em geral, intenção teorizante sobre o assunto; têm sobretudo um carácter ocasional e instintivo.
Para Alexandro, a geografia é uma parte integrante do seu sistema do universo e da natureza, já no século IV a.C., os roteiros gregos foram elaborados para servir o desígnio da colonização.
Com Alexandre da Macedónia, a geografia parecia como uma parte integrante da empresa que utiliza os seus geógrafos no reconhecimento da terra mal conhecida, de forma a avaliar as possibilidades de sustentação dos seus exércitos e a natureza da administração a implementar. Com Alexandre, vemos, pela primeira vez, a geografia, não só a ser utilizada na ordem estratégica, mas também ao serviço da acção política.
Esta noção de utilização da geografia ao serviço da acção política, já detectado em Heródoto e, que é expressa em Políbio, já na época helenéstica perfeitamente conciencializada em Estrabão, quer pela noção de geografia que perfila, quer pelo método que utiliza. Vale a pena sublinhar que para Estrabão, a geografia “… é obra política mais do que científica e deve servir o interesse dos governantes, devendo-se também tanto as particularidades físicas e atmosféricas que explicam em parte a vida e o comportamento dos habitantes, como os recursos económicos aos modos de vida, às tradições ancestrais e aos usos e costumes que revelam muitas vezes dos acasos de existência”.
Roma terá sido talvez a única potência na história que num determinado momento consegui juntar a supremacia terrestre à naval e por seguinte obter o domínio territorial do chamado Mundo que interessa, na concepção de Estrabão.
Ao contrário da concepção grega que tinha uma visão insular do mundo habitável, os geógrafos árabes consideravam as terras habitadas como fazendo parte de um sistema continental em que a África e a Ásia eram consideradas como uma unidade e a Europa como uma unidade separada, defendida por uma barreira de água, desde Gibraltar até às costas do mar Mormand.
Todavia, foi a partir do renascimento, designadamente a partir dos descobrimentos portugueses e das conquistas espanholas da América que o conhecimento da terra se tornou objectivamente económica e o pensamento político se enquadrou nos mais vastos espaços. D. Afonso Henriques, à custa de importantes aperfeiçoamentos de ordem técnica e notável espírito organizativo, preparou o formidável alargamento da consciência geográfica. A visão do espaço globalizou-se e vai ter a sua primeira grande expressão com divisão do mundo entre portugueses e espanhóis, harmonizada no Tratado de Tordesilhas.
Com o desabar do projecto napoleónico e com a angústia que perpassa no mundo germânico, não é de admirar que o processo e reflexão mais geral das relações entre a geografia e a política tenha, no século XIX, assumido um cunho fortemente germânico.
Com o conhecimento do espaço aprofundar-se-ia, especialmente, com as viagens de Alexandre Von Humbolt e os seus estudos levados a cabo por Karl Ritter.
Com Humbolt, a geografia ganharia o estatuto de ciência sistemática, pois o cientista alemão iria comparar sistematicamente as paisagens das áreas que estudava com as outras partes da terra.
Com Karl Ritter, desenvolver-se-ia o estudo de inter-relações dos fenómenos à superfície da terra e das relações desses fenómenos com o mundo. Com estes dois, acentua-se o carácter sistemático da geografia descritiva, utilizando, ao mesmo tempo, o método empírico e indutivo, cujo objectivo era a abstenção de uma lei geral.Os fundadores da moderna geografia, desde cedo começaram a problematizar as relações da mesma com a acção política da política. É a época em que Ratzel e MacKinder escrevem obras notáveis de geografia política e, Vidal de la Blache evidencia o possibilitismo no pensamento geográfico.

Sem comentários:

Enviar um comentário