segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O SEMINÁRIO-LICEU DA ILHA DE SÃO NICOLAU DE CABO VERDE

Imagem: lantuna.blogspot.com
A História da sua fundação e o papel preponderante por ele exercido na civilização de Cabo Verde.
 
 O Seminário-Liceu de S. Nicolau foi fundado em 1866 e encerrado em 1931 para albergar os deportados da metrópole, em consequência da Revolução da Madeira, iniciada em Abril de 1931.
À elevação de Cabo Verde a bispado em 1533, devia naturalmente à ideia de se fundar um estabelecimento de ensino secundário para a instrução do Clero.

Assim, por uma carta Régia de 12 de Janeiro de 1570, determinava a criação de um Seminário na Vila da Ribeira Grande de Santiago. Mas a régia carta ficou letra morta, a despeito dos esforços empregados pelo então bispo de Cabo Verde, D. Francisco da Cruz. As ideias foram caindo sem que o Seminário  se efetivasse.

Passaram-se anos e anos. A ideia que felizmente ficara de pé tomou vulto e seguiu outra determinação no mesmo sentido em 1824. D. Jerónimo do Barco, o então bispo da diocese,  fez o possível para a realização de tão louvável  ideia, já se encarregando ele mesmo de dirigir as obras do edifício seminarial , cujos fundamentos foram por ele lançados. Mas estava escrito que não era ainda que desta vez, e nem na Ilha de Santiago que havia de surgir o “farol” que vinha “iluminar” esta terra espiritana.

Eleito deputado, D. Jerónimo Barco retirou-se para Lisboa, ficando paradas as obras da edificação, a que  se havia devotado. Muito distante vinha o ano imorredoiro em que o tal “farol” se havia de erguer em Cabo Verde. Efetivamente, só 40 anos depois é que, por Decreto Lei de 3 de Setembro de 1866, se ergueu na ilha de São Nicolau o tão desejado “farol” – o Seminário Liceu que “rasgou fundamente as trevas da ignorância em que os cabo-verdianos viviam imersos”.

É certo que já estavam lançados os fundamentos do ensino primário oficial com a criação de algumas escolas “de primeiras letras”, e funcionava uma escola primária superior na Cidade da Praia. Mas aquele ensino limitava-se a muito poucas escolas, que permaneciam quase sempre fechada por falta de mestres e material didascálico e, por isso, escola principal não tinha alunos, ou como escreveu o escritor cabo-verdiano João Augusto Martins, a escola “andava às moscas”.

Quando começou a funcionar o Seminário, cujo fim principal era formar eclesiásticos para a evangelização do arquipélago de Cabo Verde. Mas, cada padre ao ser enviado para a respetiva paróquia a preparação para, a par da doutrina cristã, ministrar os primórdios de instrução primária.

Foi ao calor da vivificante da suave luz da fé e moral cristã, misturado com beneficentes  luz do “a, b, c” de que eram portadores os padres saídos do Seminário de São Nicolau que mais se formou e de todo se depurou o carácter franco, leal pacífico e hospitaleiro dos cabo-verdianos. Mas o Seminário que também era liceu preparava igualmente para uma vida civil e nesta qualidade aleitou ao seu urbe seio filhos de cá e de lá fora que se formaram nos diversos ramos da atividade humana, sobretudo nas letras, na burocracia e no magistério.

A fundação do Seminário-Liceu é dos acontecimentos mais felizes da história de Cabo Verde, portanto é dele que partiu a “luz que mais intensamente iluminou Cabo Verde”.

Falando do Seminário-Liceu, como referiu o escritor acima citado na sua obra Madeira, Cabo Verde e Guiné, “o Seminário-Liceu de São Nicolau e a Escola Central da Praia constituíam os únicos focos da instrução de carácter superior em Cabo Verde. A Escola Central, porém às moscas […]. Do Seminário-Liceu  não se pode dizer o mesmo. Vê-se e enumera-se, hoje, um grande número de “filhos da província”, em todas as classe e profissões liberais, que receberam ali os elementos de uma instrução cotável em toda a parte” (p. 152).

Efetivamente, quem, senão o Seminário-Liceu de São Nicolau, formou famosos talentos  - prosadores brilhantes, uns poetas distintos dos outros – tais como José Lopes, Corsino Lopes, Miguel Monteiro, Porfírio Tavares, Pedro Monteiro, Silva Araújo, Costa Teixeira, Duarte da Graça, Lopes Cardoso, Marques Lopes, Pedro Delgado e Tertuliano  Ramos? Filho do Seminário foram ainda os “esperançosos moços”, cujos nomes também se regista na história da literatura cabo-verdiana – Barbosa Ferreira, Barreto de Carvalho, Francisco Duarte, José Calangans, Lela Lopes, Mário Pinto e outros tantos. A ação educativa do Seminário-Liceu foi decisiva na civilização cabo-verdiana.

Contudo, foi o Seminário já extinto e contra essa extinção que representou “um gravíssimo erro administrativo”. Houve vário protestos por parte dos cabo-verdianos. Como notou o ex-professor do Liceu Infante D. Henrique  José dos Reis Borges, “infelizmente,  as ondas do Atlântico abafaram as vozes dos que protestaram na imprensa cabo-verdiana, mas o eco chegou ao poder central” em Lisboa.

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