Vila de Praia Branca, Município do Tarrafal de São Nicolau Ilha de São Nicolau |
A Morna “Sodade” foi compositada na zona de
Praia Branca, Município do Tarrafal de São Nicolau, ilha de São Nicolau, em
1954, aquando da partida de um grupo de emigrantes desta zona para as roças de
São Tomé e Príncipe. Volvidos cinquenta anos,
pode-se dizer que a Morna “Sodade” se tornou uma marca de Cabo Verde no mundo,
não só pelo número de intérpretes (nacionais e estrangeiros) que a cantaram e
gravaram em discos, mas sobretudo pelo seu conteúdo, tornando, assim, estas
ilhas no ‘arquipélago da saudade’.
Em 1954, um grupo de
quatro pessoas, a saber: José Nascimento Firmino, José da Cruz Gomes, e o casal
Mário Soares e Maria Francisca Soares, todos de Praia Branca, enforma a chamada
primeira “remessa” de emigrantes de São Nicolau para as roças de São Tomé e
Príncipe. As despedidas
musicais eram comuns na época e carregadas de emoção, pois, se a partida era
uma certeza o regresso nem tanto.
Aliás, o conteúdo da composição reflete
precisamente esse estado de espírito. “Sodade” descreve com grande simplicidade o dilema de ter que partir e
querer ficar, que sofriam os emigrantes cabo-verdianos em geral e, em
particular, os contratados “semi-escravos” para as roças de cacau e café de São
Tomé e Príncipe.
Cartaz do "Sodad, Festival d´Morna" Câmara Municipal do Tarrafal de São Nicolau |
Daí a letra: "Quem mostrob ess caminho longe?/Quem
mostrob Ess caminho longe?/Ess caminho pa SanTomé."
Cinquenta anos depois, a morna “Sodade” é
considerada como a mais emblemática música de Cabo Verde. Hoje, esta palavra dá
nome a bares e discotecas e até a revistas de música e tartarugas de Cabo
Verde.
Cantada por vários intérpretes cabo-verdianos e de outras nacionalidades, “Sodade” reflecte uma das principais características do cabo-verdiano e da música de Cabo Verde: a saudade e o amor à terra e o dilema de "ter de partir e querer ficar".
Cantada por vários intérpretes cabo-verdianos e de outras nacionalidades, “Sodade” reflecte uma das principais características do cabo-verdiano e da música de Cabo Verde: a saudade e o amor à terra e o dilema de "ter de partir e querer ficar".
Pode-se dizer que
“Sodade” se tornou uma marca de Cabo Verde no mundo. Não só pelo número de
intérpretes (nacionais e estrangeiros) que a cantaram e gravaram em disco, mas
sobretudo pelo seu conteúdo, tornando assim estas ilhas no arquipélago da
saudade.
Paulino Vieira - Músico |
A morna “Sodade”
é também aquela que mais deu problemas na história musical de Cabo Verde porque
a música era reclamada por vários autores. A princípio estava
registada como sendo de Amândio Cabral e Luís Morais. A sua autoria foi posta em causa em 2002 pelo
músico Paulino Vieira, que apontou Armando Zeferino Soares como o autor da
música.
O caso, que teve muita repercussão na
imprensa cabo-verdiana e até internacional, chegou a ir a julgamento. Foi o
primeiro caso relativo à disputa de direitos de autor que se registou no país.
"A dupla Cabral-Morais tinha-a registado
na Sacem (organismo que administra os direitos autorais em França) em 1991,
quando estava para sair Miss Perfumado, primeiro grande êxito mundial de
Cesária Évora. Isso, depois de esta música ter sido gravada por vários outros
intérpretes, entre os quais o próprio Amândio Cabral, em 1960, e o angolano
Bonga, no início da década de 70", escrevia o Jornal online “A Semana”.
Num trabalho
publicado em Maio de 2002 no jornal cabo-verdiano 'A Semana' é atribuída a
Paulino Vieira a declaração de que "Sodade" é de Zeferino Soares.
Paulino nasceu em Praia Branca, ilha de S. Nicolau, onde era natural Armando
Zeferino Soares, mas era ainda uma criança quando a morna teria sido composta,
em 1954.
As principais testemunhas de Zeferino Soares são os vizinhos e amigos,
Mário Soares e José Nascimento Firmino, e Maria Francisca Soares confirmam a
autoria. Revelaram que não estiveram presentes quando a morna foi composta mas
foi a ele que a ouviram tocar primeira vez, maio de 1954, na despedida para S.
Tomé e Príncipe.
Armando Zeferino Soares - Autor da Morna Sodade |
No final o tribunal reconheceu a autoria para
o falecido Armando Zeferino Soares, muito por causa do trabalho de investigação
do músico Mestre Paulino Vieira.
A decisão do tribunal
que confirmou a autoria de “Sodade” a Armando Zeferino Soares aconteceu em
Dezembro de 2007, mas notícia apenas foi divulgada em Fevereiro do ano seguinte
(2008).
A morna
"Sodade", que ganhou uma difusão universal na voz de Cesária Évora,
tornou-se numa das mornas mais emblemáticas de Cabo Verde, símbolo de um
período dramático da emigração para S. Tomé e Príncipe.
De "Miss
Perfumado", CD gravado por Cesária Évora em 1992, e onde sobressai
"Sodade", terão sido vendidas cerca de meio milhão de cópias e na
meia dúzia de antologias musicais da intérprete é também obrigatório o tema cuja
autoria é de Armando Zeferino Soares.
O tema é também um dos mais gravados
tanto por artistas cabo-verdianos como por estrangeiros.