É,
sem dúvida, um dos mais lindos e encantadores lugares da ilha de São Nicolau e,
talvez, de Cabo Verde. Dotado de rara beleza natural é, igualmente, detentor de
potencialidades agrícola e pecuária. Forma duas localidades propiciadoras do
desenvolvimento do turismo rural: Fragata e Ribeira Prata.
O
vale foi, no passado, atulhado de camarão em todo o seu leito, enquanto no
mesmo corria água em abundância. Desse passado resta ainda a fartura de muitos
produtos da terra, em especial das frutas de época como a manga, faiscando as
maduras, nas mangueiras mais frondosas que se evidenciam ao deixarmos a
fronteira da Ribeira Prata e entrarmos Fragata adentro. Nas duas localidades um
cheiro característico envolve o viajante ao aproximar-se, na sua jornada, dos
trapiches laborando.
Quando estão estes engenhos em atividade, não falta a
espirituosa bebida de especial aroma, o grogue de S. Nicolau, aí produzido em
excelente qualidade, geralmente oferecida, sempre com gentileza ao passante,
num gesto generoso, próprio das gentes das duas aldeias.
Ribeira
Prata destaca-se por ser a terra de mitos e da célebre morna “Mambia” e, ainda,
depositária da famosa “Rotcha Scribida”. É, igualmente, detentora de gente com
apetência especial para a execução de instrumentos de corda. Na época de “Azágua”,
para ali dirigem-se robustas torrentes de água, após fortes chuvas, atingindo milhares
e milhares de toneladas desse líquido. O caudal junta-se a partir das múltiplas
linhas de água que se vão formando desde as ribeiras mais estreitas da outra
localidade do Vale – Fragata. O impressionante caudal de água passa todos os
anos pelas duas localidade atingindo mais força na Ribeira Prata. Ao correr, em
direção ao mar, apresenta-se como um espetáculo que arrepia qualquer
observador. Deixa, no fundo do vale, imensas pedras prateadas do salitre que
carrega, conferindo assim o nome à ribeira, na sua parta mais baixa.
Sobre
Fragata, fala-se, em especial, da sua gente simples e laboriosa. Destaca-se na
mesma localidade o verde das abundantes propriedades de regadio bem como as
sinuosas vias que desafiam, permanentemente, o amante da caminhada. Também ali,
caprichosas rochas, parecem querer rasgar os céus. Topo Matinho, o segundo
ponto mais alto da ilha, é o exemplo mais acabado desta realidade. Famosa
também foi a Ladeira de Mancebo desta localidade que tinha 48 voltas,
transformadas em 48 cantos ou “cotovelos”, que restaram da destruição causada
pelas enxurradas de 2009, e cuja presença ainda goza com a inércia dos poderes
do Estado independente em não poder repor aquilo que a autoridade colonial
construiu. A meio desta ladeira, surpreende ao viajante, o encontro com o chamado
“Pé de Deus”, uma imagem lavrada em rocha viva, parecendo uma gigante sola de
pé.
Texto gentilmente cedido pelo Prof. DOUTOR Lourenço Gomes.