Inédito! Histórico! Feito com lágrimas, suor, abençoado pela chuva. Cabo Verde consegue, pela primeira vez, apurar-se para a fase final de um Campeonato Africano das Nações.
A terceira, não poderia falhar. Seria demasiado cruel para um povo que já sofreu o que tinha para sofrer. Para um abnegado povo que todos os dias desafia a mãe natureza, em busca da sobrevivência.
Em Yaoundé, perante um estádio lotado a puxar pelos Camarões, Cabo Verde entrou personalizado, sabendo o que queria e como lá chegar. Deu o primeiro sinal num cabeceamento de Nando por cima da barra mas depois passou das intenções aos atos, numa obra-prima de Nhuk.
Aquele remate em "folha seca" de Nhuk foi carregada por um milhão de almas, 500 mil de cada lado, meio milhão no arquipélago e meio milhão na diáspora. Um livre superiormente marcado, que atordoou o "leão" que se diz indomável, que atirou o "tubarão azul" para águas mais tranquilas, na viagem para a África do Sul. Faltavam 72 minutos de sofrimento.
Os Camarões tiveram de reagir ao golo sofrido mas o método, esse, não era o melhor. E não era porque pelo ar, Cabo Verde mostrou-se intransponível. Quando não era Vozinha a voar e a agarrar, era Nando ou Varela, era Carlitos ou Gegé, era Ricardo que recuava e ajudava. Era muito "tubarão" para tão pouco "leão".
Num raro momento de futebol bonito, o "leão fugiu da jaula" e Emana encontrou as redes de Vozinha, numa perfeita combinação atacante feito ao primeiro toque.
Com o empate, Cabo Verde manteve-se sereno, a controlar o jogo, a sair sempre que podia para o ataque, embora com pouca gente na frente. Num desses lances, Djaniny poderia ter desferido o ataque final nos "leões indomáveis", após brilhante passe de Babanco. O avançado do Olhanense adiantou em demasia a bola, que Kameni agradeceu.
Os últimos minutos da 1ª parte foram complicados para Cabo Verde, com os Camarões a disporem de várias oportunidades, que, ou morriam nas mãos de Vozinha ou acabavam para lá da linha de fundo.
No segundo tempo, Lúcio lançou Ryan Mendes para o lugar do desinspirado Djaniny. A ideia era ter um jogador capaz de tirar partido do espaço existente nas costas da defensiva camaronesa mas também alguém com maior capacidade de sacrifício, capaz de desequilibrar no um-para-um.
Os Camarões insistiam nos cruzamentos mas na área Vozinha era o "tubarão" mais feroz, aquele que se atirava para todas as bolas. O trabalho da defensiva crioula deixava os camaroneses à beira de um ataque de nervos, tal a superioridade de Cabo Verde na sua área.
Na selva de Yaoundé, o "leão" ia sendo domado com mestria, com paciência. Ofegante e resignado, limitou-se a despejar bolas para a área, esperando um milagre, ali em "águas largas" onde o "tubarão" é rei e senhor.
O apuramento foi feito de luta, suor, lágrimas e...chuva. Tal como no primeiro encontro, a chuva veio para abençoar a qualificação, a chuva que tantas vezes faz falta em Cabo Verde.
Os Camarões ainda conseguiram marcar e garantir a vitória no jogo, num remate indefensável de Olinga já no período de descontos, mas a história já estava escrita. "Os tubarões azuis" marcavam presença no CAN2013 na África do Sul, terra de...tubarão branco.
Parabéns a equipa técnica, liderada por um homem da casa, Lúcio Antunes, mas também aos bravos guerreiros cabo-verdianos.
O CAN2013 é o prémio para um povo que nunca vira a cara a luta. Parabéns, Cabo Verde!
Sapo.cv
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