sábado, 6 de junho de 2009

OS APÓSTOLOS DO IDEAL EUROPEU

O projecto europeu não se fez de um só golpe, não se constituiu somente num momento. Desde sempre que o ideal da criação de uma Europa unida povoa o imaginário dos grandes homens europeus. Homens como César Augusto, sob o seu jugo – de 27 a.C a 14 d.C – tentaram-no pela força, auspiciando a formação de um império à escala europeia, primeiro; posteriormente, de dimensão global.
Outros seguiram-no; o ideal tomista da res publica christiana mais não era que a congregação dos povos, sob o baluarte da fé cristã. As cruzadas – enquanto luta contra os infiéis – personificaram os intentos da Igreja de Roma em efectivar a sua influência – que se cria divina – à escala mundial.
Muitos outros seguiram-nos; Carlos V (1500-1558), Imperador do Sacro Império Romano-Germânico celebrizaria-se pela sua peremptória afirmação: “Falo espanhol com Deus, francês com os homens, italiano com as mulheres e alemão com o meu cavalo”. Napoleão (1769-1821) ficaria para a posteridade, após o golpe de 18 de Brumário, ao tentar construir um único império “de Lisboa a Moscovo”; o herdeiro da Alemanha recém unificada, Guilherme II (1859-1941), tornar-se-ia o arauto da política mundial – ou Weltpolitik – podendo esta ser conotada como uma das causas que precipitaram a Grande Guerra de 1914, ao colidir com os interesses expansionistas de uma Inglaterra, de uma França ou de um império Austro-húngaro. Finalmente, no seguimento de uma “casta” alemã de matiz claramente bélica e expansionista, Adolf Hitler (1889-1945), seria o ícone da unidade europeia, posta aos ombros da nação germânica. O Anschluss – ou anexação da Áustria em 1938 – demonstraria, até à saciedade, que o recurso à força seria o instrumento mais utilizado para o fito da unificação dos povos europeus, ainda que para proveito de uma nação dominadora.
Outros tentaram-no por “meio da força das palavras”. Antes de qualquer outro o publicista normando Pierre Dubois (1250-1312) – também conhecido por Jean du Tilet ou por Pierre Dupuy – idealiza, no ano de 1304, na sua Acta inter Bonifacium VIII. et Philippum Pulchrumos os “Estados Unidos da Europa”. O Abade Saint-Pièrre (1658-1743) proporia a criação de uma liga Europeia, formada por 18 Estados soberanos com um tesouro comum, sem fronteiras e que originasse numa união económica.
Também o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) na sua obra Contrato Social, de 1762 – que viria a influenciar de sobre maneira a Revolução Francesa de 1789 – preconiza a existência de uma volonté générale, que deveria estar acima das vontades individuais, aludindo aos europeus para que se “despissem” da sua condição individual e abraçassem a empresa da unidade europeia.
Immanuel Kant (1724-1804) no seu Projecto de Paz Perpétua (1795) apela a uma união de todos os povos, retomando os ideais da já acima citada res publica christiana.
Apoiado na sua teoria do Utilitarismo, o britânico Jeremy Bentham (1748-1832) defende a maximização do uso das funções dos objectos e do próprio Homem para se atingir a felicidade. O Bem Comum, portanto, torna-se um elemento filosófico primordial para a constituição de um povo europeu com um mesmo substracto. Finalmente, e terminando o elenco dos pensadores e filósofos “profetas” do ideal europeu, a ordem cronológica que utilizei termina com Saint-Simon (1760-1825), considerando este a importância da fé cristã como a principal sustentadora do princípio da fraternidade humana, que originaria posteriormente a criação de uma sociedade sui-generis.

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