terça-feira, 5 de abril de 2016

A Revolta da Madeira e os seus impactos em Cabo Verde


A 4 de Abril de 1931, num sábado de aleluia, eclodia em Funchal a célebre Revolta da Madeira, liderada pelos nossos conhecidos tenentes Dr. Camões e Pélico, apoiados pelos alferes Hasse Ferreira e Mouzinho Sacadura, alguns dos quais por cá ficaram, morreram, e deixaram descendência e um importante legado.
 

A revolta, que esteve para ser seguida no continente e nas ilhas lusófonas, apenas chegou aos Açores e Guiné-Bissau, na sequência da qual, presos, os seus protagonistas seriam deportados para vários destinos, entre os quais a ilha de São Nicolau em Cabo Verde, onde desembarcaram cerca de duzentos cidadãos portugueses.

Uma efeméride de relevante importância, que põe a ilha de São Nicolau e Cabo Verde na rota da deportação e nos torna testemunhas das sevícias perpetradas pelo regime totalitário que Salazar instalou em Portugal.

Com efeito na ilha de São Nicolau, o regime fascista ensaiaria em primeira mão, o novo modelo prisional entretanto adotado, que substituiu o “degredo numa ilha”, para “Prisão na ilha”, ou seja em “Regime fechado”, dentro da ilha.

Primeiro no seminário da Ribeira Brava, de onde os alunos tiveram de abandonar apressadamente as aulas, depois num Campo de Concentração em Tarrafal de São Nicolau, edificado de raiz com material pré-fabricado alemão, a experiência de São Nicolau se estenderia para Timor-Leste, Moçambique, Angola e Guiné Bissau.

Histórias de interesse universal, que como outras, a ilha de São Nicolau encerra, – Indústria Baleeira, Seminário-liceu, Sede da Diocese de Cabo Verde, Indústria Conserveira do Atum, etc.

Marcos culturais e históricos, para cuja descoberta a ilha vai sendo aos poucos procurada, seja por investigadores, como por docentes, turistas, ou meros curiosos.

Ainda recentemente:

O presidente da mais prestigiada instituição mundial, dedicada à história da baleação – o museu da Baleia de New Bedford, visitou a ilha com uma delegação, para descoberta da origem dos Cabo-verdianos que fizeram de New Bedford a “CIDADE QUE ILUMINOU O MUNDO”;

Académicos e especialistas internacionais da área de Educação artística, foram também acolhidos no Museu da Pesca, para estudos de campo, inseridos na programação doIV encontro Internacional de Educação Artística que decorreu em São Vicente.

Mais uma vez, a ilha mereceu o interesse de um grupo de vinte professores, desta feita da Escola do Ensino Básico NOVA ASSEMBLEIA, da Praia, que vêm à descoberta da história e cultura da Ilha de São Nicolau.

Marcos históricos e culturais, cuja relevância e importância reconhecida internacionalmente, atrai visitantes de fora, circunstância que obriga a questionar, em jeito de desafio:

Será que localmente, o cidadão comum, as comunidades, passando por estudantes, professores, poderes públicos, conhecem, valorizam e se empenham na preservação desse importante legado?

Haverá a consciência do quanto esse legado poderá constituir-se em alavanca de desenvolvimento local e promoção da coesão social?

Texto de opinião de JJ Cabral, in www.anacao.cv

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