A 4 de Abril de 1931, num sábado de aleluia, eclodia
em Funchal a célebre Revolta da Madeira, liderada pelos nossos conhecidos
tenentes Dr. Camões e Pélico, apoiados pelos alferes Hasse Ferreira e Mouzinho
Sacadura, alguns dos quais por cá ficaram, morreram, e deixaram descendência e
um importante legado.
A revolta, que esteve para ser seguida no continente e
nas ilhas lusófonas, apenas chegou aos Açores e Guiné-Bissau, na sequência da
qual, presos, os seus protagonistas seriam deportados para vários destinos,
entre os quais a ilha de São Nicolau em Cabo Verde, onde desembarcaram cerca de
duzentos cidadãos portugueses.
Uma efeméride de relevante importância, que põe a ilha
de São Nicolau e Cabo Verde na rota da deportação e nos torna testemunhas das
sevícias perpetradas pelo regime totalitário que Salazar instalou em Portugal.
Com efeito na ilha de São Nicolau, o regime fascista
ensaiaria em primeira mão, o novo modelo prisional entretanto adotado, que
substituiu o “degredo numa ilha”, para “Prisão na ilha”, ou seja em “Regime
fechado”, dentro da ilha.
Primeiro no seminário da Ribeira Brava, de onde os
alunos tiveram de abandonar apressadamente as aulas, depois num Campo de
Concentração em Tarrafal de São Nicolau, edificado de raiz com material
pré-fabricado alemão, a experiência de São Nicolau se estenderia para
Timor-Leste, Moçambique, Angola e Guiné Bissau.
Histórias de interesse universal, que como outras, a
ilha de São Nicolau encerra, – Indústria Baleeira, Seminário-liceu, Sede da
Diocese de Cabo Verde, Indústria Conserveira do Atum, etc.
Marcos culturais e históricos, para cuja descoberta a
ilha vai sendo aos poucos procurada, seja por investigadores, como por
docentes, turistas, ou meros curiosos.
Ainda recentemente:
O presidente da mais prestigiada instituição mundial,
dedicada à história da baleação – o museu da Baleia de New Bedford, visitou a
ilha com uma delegação, para descoberta da origem dos Cabo-verdianos que
fizeram de New Bedford a “CIDADE QUE ILUMINOU O MUNDO”;
Académicos e especialistas internacionais da área de
Educação artística, foram também acolhidos no Museu da Pesca, para estudos de
campo, inseridos na programação doIV encontro Internacional de Educação
Artística que decorreu em São Vicente.
Mais uma vez, a ilha mereceu o interesse de um grupo
de vinte professores, desta feita da Escola do Ensino Básico NOVA ASSEMBLEIA,
da Praia, que vêm à descoberta da história e cultura da Ilha de São Nicolau.
Marcos históricos e culturais, cuja relevância e
importância reconhecida internacionalmente, atrai visitantes de fora,
circunstância que obriga a questionar, em jeito de desafio:
Será que localmente, o cidadão comum, as comunidades,
passando por estudantes, professores, poderes públicos, conhecem, valorizam e
se empenham na preservação desse importante legado?
Haverá a consciência do quanto esse legado poderá
constituir-se em alavanca de desenvolvimento local e promoção da coesão social?
Texto de opinião de JJ Cabral, in www.anacao.cv
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