sábado, 6 de junho de 2009

As origens da ideia de Europa

As origens da ideia de Europa confundem-se com a própria dificuldade imposta quer pela irregularidade do contorno geográfico, quer pela própria dúvida da autonomia física do Continente europeu. Assim, há quem assevere a Europa como intrinsecamente ligada a África, enquanto outros a apresentam como um simples promontório asiático.
Até mesmo a própria mitologia não é unânime: quer tenha nascido na Ásia, enquanto filha do rei fenício Agenor e raptada por Zeus, na forma de um touro, para o recanto helénico de Creta, quer conduzida a Homero, por meio do epíteto concedido a seu pai: “Europé” – o que vê ao longe – a definição clara e precisa da Europa não se antevê tarefa fácil.
Unida – desde o Império Romano – sob o estandarte do Cristianismo e sobre o legado comum transmitido pela Grécia Clássica, a Europa conhece múltiplas teorias acerca da sua origem. A teoria mitológica, geográfica, social povoam o intelecto de vários pensadores, ainda que um consenso esteja ainda longe de se alcançar. Ainda assim, a “Europa social” parece ser a que reúne um maior número de adeptos. Uma Europa que caminha cada vez mais “unida na diversidade” – segundo o seu motto; uma Europa dos cidadãos que progride cada vez mais nos trilhos da estabilidade e do crescimento demográfico e económico. Cada vez mais a “aldeia global” que hoje é a Europa assemelha-se à Cidade de Deus de Santo Agostinho ou à res publica christiana de São Tomás de Aquino, caminhando para um ideal de paz e de progresso.Mas para que esse ideal de paz e de progresso constasse do horizonte europeu, o velho Continente teria de percorrer um longo caminho até que os princípios de hoje se efectivassem. Desde uma Europa sob o domínio da Roma Imperial ou sob a égide do poder papal – e consequente desvalorização do papel deste – ou ainda despertada pelas modernas soberanias, passando pela paz fundada na cooperação e no respeito pelo direito internacional – como aconteceu no período compreendido entre 1815 e 1914 (datas do “Concerto Europeu” que foi o Congresso de Viena e da Primeira Guerra, respectivamente), o ideal europeu passaria, forçosamente, pelo esforço de cooperação dos europeus, comprometidos em devolver o status quo o qual a história tinha consagrado a Europa.

OS APÓSTOLOS DO IDEAL EUROPEU

O projecto europeu não se fez de um só golpe, não se constituiu somente num momento. Desde sempre que o ideal da criação de uma Europa unida povoa o imaginário dos grandes homens europeus. Homens como César Augusto, sob o seu jugo – de 27 a.C a 14 d.C – tentaram-no pela força, auspiciando a formação de um império à escala europeia, primeiro; posteriormente, de dimensão global.
Outros seguiram-no; o ideal tomista da res publica christiana mais não era que a congregação dos povos, sob o baluarte da fé cristã. As cruzadas – enquanto luta contra os infiéis – personificaram os intentos da Igreja de Roma em efectivar a sua influência – que se cria divina – à escala mundial.
Muitos outros seguiram-nos; Carlos V (1500-1558), Imperador do Sacro Império Romano-Germânico celebrizaria-se pela sua peremptória afirmação: “Falo espanhol com Deus, francês com os homens, italiano com as mulheres e alemão com o meu cavalo”. Napoleão (1769-1821) ficaria para a posteridade, após o golpe de 18 de Brumário, ao tentar construir um único império “de Lisboa a Moscovo”; o herdeiro da Alemanha recém unificada, Guilherme II (1859-1941), tornar-se-ia o arauto da política mundial – ou Weltpolitik – podendo esta ser conotada como uma das causas que precipitaram a Grande Guerra de 1914, ao colidir com os interesses expansionistas de uma Inglaterra, de uma França ou de um império Austro-húngaro. Finalmente, no seguimento de uma “casta” alemã de matiz claramente bélica e expansionista, Adolf Hitler (1889-1945), seria o ícone da unidade europeia, posta aos ombros da nação germânica. O Anschluss – ou anexação da Áustria em 1938 – demonstraria, até à saciedade, que o recurso à força seria o instrumento mais utilizado para o fito da unificação dos povos europeus, ainda que para proveito de uma nação dominadora.
Outros tentaram-no por “meio da força das palavras”. Antes de qualquer outro o publicista normando Pierre Dubois (1250-1312) – também conhecido por Jean du Tilet ou por Pierre Dupuy – idealiza, no ano de 1304, na sua Acta inter Bonifacium VIII. et Philippum Pulchrumos os “Estados Unidos da Europa”. O Abade Saint-Pièrre (1658-1743) proporia a criação de uma liga Europeia, formada por 18 Estados soberanos com um tesouro comum, sem fronteiras e que originasse numa união económica.
Também o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) na sua obra Contrato Social, de 1762 – que viria a influenciar de sobre maneira a Revolução Francesa de 1789 – preconiza a existência de uma volonté générale, que deveria estar acima das vontades individuais, aludindo aos europeus para que se “despissem” da sua condição individual e abraçassem a empresa da unidade europeia.
Immanuel Kant (1724-1804) no seu Projecto de Paz Perpétua (1795) apela a uma união de todos os povos, retomando os ideais da já acima citada res publica christiana.
Apoiado na sua teoria do Utilitarismo, o britânico Jeremy Bentham (1748-1832) defende a maximização do uso das funções dos objectos e do próprio Homem para se atingir a felicidade. O Bem Comum, portanto, torna-se um elemento filosófico primordial para a constituição de um povo europeu com um mesmo substracto. Finalmente, e terminando o elenco dos pensadores e filósofos “profetas” do ideal europeu, a ordem cronológica que utilizei termina com Saint-Simon (1760-1825), considerando este a importância da fé cristã como a principal sustentadora do princípio da fraternidade humana, que originaria posteriormente a criação de uma sociedade sui-generis.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Uma Viagem de Comboio

Desde que me encontro em Lisboa, utilizo os transportes públicos para ir à faculdade – mais concretamente os comboios. Não é novidade nenhuma que nos transportes públicos acontece de tudo. Desde as confusões, as pessoas a querem entrar primeiro para poder encontrar um lugar onde se possa sentar, pessoas a dormir devido ao cansaço, as músicas altas nos telemóveis, o cheiro insuportável da transpiração das pessoas.
Numa linda tarde de primavera, com uma temperatura agradável e com um sol brilhante, apanhei o comboio para ir à aula. Entrei e sentei-me perto de uma senhora. Até aqui tudo normal. O anormal é que a senhora se esqueceu que não se encontrava em casa, mas sim num comboio. Pôs-se a cortar as unhas, estas a “saltarem” para as outras pessoas que aí se encontravam, e depois as pintou. Confesso que houve uma troca de olhar entre mim e outros três passageiros. Mas nenhum de nós foi capaz de lhe dizer algo. Porquê? não sei. O meu espanto foi ainda maior, na paragem seguinte, quando entrou um rapaz e sentou-se ao meu lado. Depois começou a mexer na mala, tirou o seu telemóvel e pôs-se a ouvir a música bem alta. Mexeu na carteira e tirou um pedaço de haxixe e começou a queimá-lo à frente de toda gente que aí se encontrava. Como ele se encontrava sentado ao meu lado, e o cheiro era insuportável, tive que me mudar de lugar. Depois do “charro” estar feito, ele saiu como se nada tivesse acontecido, como se costuma dizer, “numa boa”. O facto de ter feito um “charro”não foi o problema, mas no comboio não cai bem. O que as pessoas têm de saber é que há certas coisas que devem ser feitas em casa e de preferência quando estamos sozinhos.