sábado, 24 de junho de 2017

San Jon - Praia Branca, Ilha de São Nicolau

Praia Branca confunde pelo nome. Na verdade, trata-se de uma Vila simpática e aconchegante, situada numa encosta. Supostamente terá sido fundada por habitantes provenientes da beira-mar de uma tal “praia-branca”, e que com eles trouxeram o nome. 


No passado, o mais importante povoado da costa oeste, ocupou papel de relevo no contexto da ilha, tendo sido projectada a criação de uma freguesia com sede ali, mas que não chegou a acontecer. Beneficiou de uma das primeiras escolas-régias da ilha, no longínquo ano de 1885. Foi, no passado, importante centro de atividade pecuária que, infelizmente, entrou em decadência. Na Praia Branca nasceu a mais emblemática canção cabo-verdiana, “SODADE”, da autoria de Armando Zeferino Soares. Foi ali também que nasceu o mestre da música cabo-verdiana, Paulino Vieira.

Conserva até hoje uma das maiores manifestações culturais da ilha. O San Jon é um evento festivo multi-expressivo que se realiza na zona de Praia Branca, por ocasião do dia de São João Baptista, 24 de Junho. Envolve música, dança, palavra e artefatos, recriando alguns aspetos da tradição cultural cabo-verdiana, nomeadamente das festas que se realizam entre o dia 3 de maio (dia de Santa Cruz) e o dia 29 de Junho (dia de São Pedro) nas ilhas de Barlavento (Santo Antão, São Vicente e São Nicolau).


Na Praia Branca, o ritmo de San Jon varia no andamento e com uma coreografia típica, que consiste em duas filas, na sua maioria mulheres, frente a frente com meneios sensuais acompanhados de dizeres maliciosos, lascivos, dirigidos aos homens, e críticas sociais.



O escritor Alejo Carpenter, no livro La Musica en Cuba, afirma o seguinte: "Em 1776, uma frota procedente da Europa e que havia feito escala em Havana, transportou para Vera Cruz (México) alguns emigrantes de cor que levaram com eles um baile chamado El Chuchumbé que obteve um extraordinário êxito e difusão".
Essa manifestação, das poucas que se tinha para se expressar livremente, teve de ser interrompida, quando as críticas se viraram para a igreja.
A Santa Inquisição do México, porque aquela dança cubana “causava danos” - supostamente morais, em Vera Cruz particularmente entre as donzelas, como referiria o informador da Santa inquisição: " [... ] as coplas são cantadas por um grupo enquanto outros bailam, seja entre homens e mulheres ou entre quatro mulheres e quatro homens, com movimentos lascivos e batendo barriga contra barriga".
Ainda na mesma obra, Carpenter afirma que um padre chamado Labat descreve uma dança muito parecida, vista por ele em Santo Domingo em 1698 " [...] Afastam-se logo dando voltas com gestos absolutamente lascivos".



Baseado no lema ‘’Herança de Nôs Gent. Almas de Nôs Terra”, os jovens, mobilizados de há alguns anos para cá, são dos que mais animam as atividades hoje em dia. De tambor ao peito, apitos e cornetas, estes em cascos de búzio, e os famosos cantares, a Comissão quer dinamizar o San Jon de Praia Branca e “não deixar a Tradição padecer”.

Atrair muitas pessoas à ilha, incluindo emigrantes que escolhem esta época do ano para fazer férias e aproveitar o San Jon dos seus antepassados, como resultado do trabalho feito por esta comissão que deu uma nova dinâmica a esta festividade.
Proporcionar à comunidade local e aos visitantes umas festas à moda antiga, envolvendo a comunicação social presente na nossa ilha e outros meios de comunicação à nossa disposição.

Em 2015, San Jon de Praia Branca foi elevada a património imaterial municipal.

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