terça-feira, 12 de outubro de 2010

A VISITA DO PRESIDENTE ÓSCAR CARMONA A CABO VERDE (1939)

No dia 24 Junho de 1939, o Chefe de Estado português, Óscar Carmona, desembarca em São Vicente, Cabo Verde. Fez uma “viagem de soberania” a Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e à União Sul-Africana. Esta viagem “afirmou ao Mundo a nossa coesão, a unidade indestrutível do Império Português descoberto, conquistado e colonizado por portugueses […]”.(AHU).
Francisco Vieira Machado, Ministro das Colónias, numa conversa com o jornalista José Augusto, disse que “ vários são os objectivos desta viagem presidencial. Serve, principalmente, para fortalecer os laços da unidade imperial. A nossa concepção de unidade imperial assenta na íntima solidariedade das partes componentes do Império. O Estado Novo, convém não esquecer, muito tem feito para cimentar este sentimento. Reconheço que muito ainda falta fazer. E a prova é que esta viagem foi concebida e realizada tendo este alto objectivo […]. Todos nós vimos a vibração patriótica dos colonos de todas as províncias, de todos os sítios onde pulsava um coração português […] a sua repulsa vibrante a tudo que não seja este grito: «Aqui é Portugal». E em todo os lados o mesmo: «Esta é a nossa pequena casa portuguesa»”.(Idem).
Foi para os cabo-verdianos o primeiro “abraço fraternal dos irmãos” da Europa, “como sinal da unidade do império”. Um abraço do Chefe de Estado tem sempre uma importância simbólica. Nas ilhas de Cabo Verde, porém, essa importância teria necessariamente de ser sentida com maior intensidade. “[…]Pontes de enlace, em pleno Atlântico, a meio caminho entre a Europa, a América e a África. Passam por aqui as grandes rotas da civilização, partindo de Lisboa – capital do Império – para todo o mundo […] Nestas ilhas, a grandeza e a integridade históricas de Portugal assumem particular realce e daqui avistamos os caminhos de novo abertos para o engrandecimento da Pátria, caminhos estes que ora trilhamos com firmeza […]” (Idem).
Tal como escreveu, no dia seguinte, o Diário de Noticias, “é preciso que todos os portugueses compreendam que o nosso horizonte político, não deixando de ser europeu, ultrapassa a Europa, devido à nossa posição no Atlântico e no Índico, em África e na Ásia. Uma tal posição geográfica impõe uma política que não se pode enredar com muitas questiúnculas artificialmente criadas pela paixão delirante de alguns ideólogo […]”.(Diário de Notícias, 25 de Junho de 1939).
Um dos primeiros jornais estrangeiros que sublinharam a importância política e a projecção internacional do Presidente da República, Óscar Carmona, a Cabo Verde foi o Temps, ao publicar que “a importância que o império tem para Portugal não escapa a ninguém” e que “desempenha uma função importante na actividade marítima e prosperidade económica do Estado Atlântico, colocado no limiar do Ocidente europeu”.(Arquivo Histórico Ultramarino).
Na Cidade da Praia, no molhe alinham-se bandeiras e estandartes. Cada signa representa uma ilha do arquipélago. “Vieram em delegação até à capital para afirmar ao Chefe de Estado a unidade indestrutível do arquipélago, célula da unidade imperial”. De todas as ilhas do arquipélago foram alunos das escolas e jovens de ambos os sexos, clubes desportivos, aprendizes do rude mester de trabalhar a terra, todos com as suas fartas brancas e o escudo da “Mocidade Portuguesa” sobre o coração.
Cabo Verde é um arquipélago com poucos recursos naturais, é certo, mas de enorme valor estratégico como base de reabastecimento da navegação. O arquipélago teve nos descobrimentos papel importante que a história não pode descurar. Por lá teriam passado, a caminho do Sul, os navegadores que prosseguiam na exploração da costa africana e que depois de encontrarem as ilhas de São Tomé, Fernando Pó, Príncipe e Ano Bom, descobriram Angola, com Diogo Cão e com Bartolomeu Dias, abriram o caminho do Oceano Índico, pelo Cabo da Boa Esperança. Por Cabo Verde passou Vasco da Gama, em direcção às grandes terras da Índia. Neste arquipélago, arribou Cristóvão Colombo na sua terceira viagem. As ilhas de Cabo Verde adquiriram universal ressonância. Anos e anos, séculos e séculos de trabalho criaram um porto que vem sido procurado pela navegação internacional e que representa na estratégia defensiva do Atlântico uma base de incalculável importância.
“Cabo Verde, terra de Portugal, limiar do Império” era a frase que se lia nos arcos triunfais que enchiam a cidade da Praia”. Cabo Verde provou sê-lo. O presidente da Câmara Municipal “não precisou de vincar a saudação, porque essa havia-a já feita o povo de forma calorosa. As suas palavras foram as de um português grato à própria Pátria […] os representantes dos povos do arquipélago para acalmar, agradecidos, o Sr. Presidente da República, e dizer-lhe em nome desses povos, que «Cabo Verde é a terra mais portuguesa de todas quantas formam o Império»”(Idem). Os «vivas» a Portugal e ao Presidente da República eram “soltados ao mesmo tempo por milhares e milhares” de pessoas.

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