quarta-feira, 17 de junho de 2015

SUCLA e o seu contributo para desenvolvimento do Tarrafal de São Nicolau


Em 1935, António Assis Cadório e José Loureiro Rabaça desenvolveram uma das mais bem-sucedidas indústrias de Cabo Verde e que resiste ate hoje.
De capital nacional, a Sociedade Ultramarina de Conservas, Lda. (SUCLA), um exemplo de sucesso, totalmente modernizado para atender às exigências internacionais, produz conservas de qualidade.

Para além da conserveira, a SUCLA é uma instituição social, considerado o centro de desenvolvimento do Concelho do Tarrafal de São Nicolau, empregando perto de 200 pessoas directamente e viabilizando os empregos de outras centenas, sendo estes pescadores, vendedores, comerciantes etc.
Através dos vários impostos, cerca de 50% dos rendimentos da SUCLA, entram anualmente nos cofres do estado. É esta uma das suas principais contribuições para o desenvolvimento de Cabo Verde.

 
Tarrafal deve à SUCLA o seu desenvolvimento. Pois até à sua instalação, a povoação conhecia não mais que umas poucas casebres, muito precárias, e pescadores fortuitos (de Palhal e Cabeçalinho) que vinham temporariamente para faina da pesca. Basta ler a apreciação do general Sousa dias, em carta para seu filho, Alberto, aquando da sua passagem por Tarrafal-SN: “O local é simplesmente pavoroso. Tarrafal – misérrima povoação de pescadores, fica situado próximo e ao lado de uma apertada ravina de ásperos e escalvados flancos elevados e de abruptos declives … 3 raquíticas árvores é a única vegetação que ai se encontra. … a misérrima povoação de Tarrafal, uma centena de paupérrimos casebres, dos quais o mais luxuoso “, dispõe de uma estreita cubata junto á porta de entrada. Nenhuma dessas verdadeiras cubatas é caiada, e em todas a cobertura é de colmo […]”, (J. Cabral 2010).


Hoje, a SUCLA é uma empresa de cariz familiar. Desde 1935 sofreu várias transformações: Passou a cariz familiar.
A SUCLA e as suas conservas são hoje uma referência inegável da cabo-verdianidade, as latas de atum da SUCLA viajam para os quatro cantos do mundo.

 
O Atum, o principal produto processado, leva a marca “CADÓRIO”, nome do fundador da fábrica de conservas SUCLA. De fabrico semi-real e processamento com as mais modernas técnicas de conservação, o Atum da SUCLA, conhecido como “Atum de Cabo Verde”, é inigualável no seu sabor.
A SUCLA não fica só por ai com as conservas de atum, há também filetes de cavala, melva, pasto de atum e ração.


Quando muito se fala em promoção do empreendedorismo, vale lembrar que a fábrica SUCLA, nos longínquos anos trinta e quarenta, já promovia emprego e formação a nível local através do financiamento de embarcações artesanais a jovens pescadores. (João Lopes Filho).


Sempre apoiando o desenvolvimento de Tarrafal de São Nicolau, a SUCLA, desde longa data, tem vindo a formar trabalhadores, pescadores, carpinteiros navais etc. Portanto igualmente um pólo educacional do recém-formado Concelho do Tarrafal de São Nicolau.
O antigo gerente e proprietário Joaquim Spencer (Nhô Djack) conta que “a prática de fazer botes, inicialmente foi com tentativa de ajudar os pescadores a caminhar com seus próprios pés em que o processo era feito através da doação de botes aos pescadores e esses ficavam com o compromisso de pagar aos poucos”.


A SUCLA apoia nas actividades sócio culturais. Apoia as escolas do EBI da zona do Município do Tarrafal de São Nicolau com fornecimento de uma boa quantidade de farinha de peixe para alimentação dos alunos. Apoia alguns alunos nos estudos superiores em São Vicente com as propinas, onde é feito uma selecção dos candidatos. Apoia os mais carenciados com os tratamentos médicos, construção das suas casas, alimentação etc… Oferece os seus barcos para evacuação dos doentes com urgências (antigamente era tudo “de borla”, para todas as classes, mas hoje já é estipulado um preço para as que conseguem pagar”. Apoia a escola de formação de base para o futebol, Augusto Almeida, criada pelo Ex- Futebolista Francisco Spencer (mais conhecido por Tchique d´Niquita).


Este ano, por ocasião das comemorações do décimo aniversário da fundação do Município, em agosto, a Câmara Municipal homenageia a Fábrica SUCLA que este ano assinala o 80.º aniversário.


Fundadores da SUCLA

António Assis Cadório, português de Salvaterra de Magos, foi o mentor e fundador da Fábrica SUCLA. Chegou a Cabo Verde para acertar contas com um cliente, a quem forneceu equipamentos de conservas de atum, a família de José Aguiar Nascimento, que tinha tentado instalar uma indústria conserveira em Tarrafal de Monte Trigo Santo Antão. O negocio fracassou e não pode saldar a divida com o fornecedor. Já na posse de seus equipamentos, soube por intermédio de António Pedro Chantre, capitão do barco de nome “vaporinho” que transportava água de Tarrafal Monte Trigo para São Vicente, que em Tarrafal de São Nicolau abundava pescarias próximo da costa, decidiu zarpar para aqui.

José Loureiro Rabaça, natural de Eirô, Portugal, nascido em 20/09/1896, foi um de entre cerca de duas centenas que Salazar deportou para a ilha de São Nicolau.
Encontrava-se na colónia prisional de Tarrafal de São Nicolau, quando Salazar viu-se forçado a desmantela-lo. Aos prisioneiros considerados perigosos ele decretou residência fixa em Cabo Verde. Aos outros, o governo colonial, num gesto de aparente benevolência disponibilizou-se para custear as despesas de repatriamento. Naturalmente aceitaram, sem saber que iriam acabar presos á chegada a Lisboa e encarcerados na prisão de Monsanto.
A quem pretendesse ficar, aqueles que não constituíam perigo e tivessem constituído família, ele exigiu a constituição de depósito e fiança, para a eventualidade de virem a decidir pelo regresso.
Rabaça foi um dos que ficou. Mais por insistência dos pais, que conhecedores de sua estripe, sabiam que dificilmente não se voltaria a meter na política, circunstancia que certamente, resultaria em nova prisão e provavelmente aniquilamento. Rabaça faleceu em Tarrafal de São Nicolau no dia 24/09/1952, com apenas 56 anos.


 

2 comentários:

  1. Excelente post que relata a história de uma indústria cabo-verdiana bem sucedida e que utiliza matéria-prima local. Já comemos algum Cadório, oferta de amigos das ilhas e podemos assegurar qu'el é tcheu sabe, sabim.

    Braça,
    Djack

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  2. Cada vez que vou a Cabo Verde trago algumas latas de atum e cavala. Da última vez touxe também uma de melva para experimentar e adorei. São de uma qualidade superior

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