terça-feira, 20 de julho de 2010

A Estratégia e a Política

Os Estados têm como principal objectivo a prossecução dos objectivos nacionais permanentes e a sua afirmação enquanto Estados soberanos, o alcance de objectivos nacionais independentes das vontades alheias, torna-se permanente. Segundo João Carlos Gonçalves Caminha, o grau de “soberania de um Estado é sempre directamente proporcional à capacidade de definir unilateralmente objectivos políticos e estratégicos. Quanto mais for a relatividade de poderes, maior a flexibilidade na selecção de objectivos […]".
Cada Estado tem a necessidade de maximizar a sua capacidade de determinar as atitudes ou de condicionar a conduta e as decisões de outros Estados.
O primeiro dever de um estadista é de fazer com que a nação alcance os seus objectivos, de preferência sem apelo a acções de força e não consiste em evitar confrontos internacionais. O segundo dever não é evitar confrontações de poder, mas impedir que estas ocorram dentro de alinhamentos desfavoráveis . Proporcionar os meios que permitem a um Estado alcançar os seus objectivos, num enquadramento internacional que lhe seja favorável, constitui uma das importâncias/competências da Estratégia, decorrendo a sua Concretização da capacidade da assegurar a independência e integridade territorial.
Amerino Raposo Filho diz-nos que a Segunda Guerra Mundial viria a proporcionar a possibilidade de extrapolação da Estratégia do domínio exclusivamente militar, pela mobilização e emprego de meios diversos; o que ampliou a esfera da acção daquela disciplina.
Segundo Raymond Aron, “a Estratégia consistia no emprego de forças armadas”, mas é claro que estas não constituem o único meio de estratégia. Clausewitz considera a guerra como uma luta entre Estados, consistindo a condução da mesma na arte do combate, vendo na arte de combinar os combates, uma forma de determinar com sucesso uma campanha. À estratégia competiria operar ao nível da arte do combate. Clausewitz evocou uma visão que hoje se considera tradicional, relativamente à estratégia.
Para Liddel Hart, a estratégia é praticamente é sinónimo de política, tendo a seu cargo a direcção da guerra, diferenciando-se a “grande estratégia” da política por ser esta que define o objectivo. Procedeu a um desenvolvimento pormenorizado da estratégia, considerando-o a dois níveis: (i) ao nível da “grande estratégia” – ou estratégia total encontra-se associado ao nível hierárquico mais elevado de concepção da conduta da guerra – onde a estratégia exerce-se a um nível subordinado o da grande estratégia, esta tem por objectivo executar uma política sendo o seu papel a de “[…] coordenar e dirigir todos os recursos de uma nação ou a um agrupo de nações, para a execução do objectivo político […]”; (ii) a estratégia militar propriamente dita é caracterizada pela arte de distribuir e aplicar os meios militares para atingir os fins da política .
De um modo geral, a Estratégia é vista como um método de exame dos aspectos dos problemas considerados, propondo soluções após considerar todos os elementos e possibilidades das adversárias. A estratégia pode ser considerada como um esquema de procedimento.
Raul François Martins define a estratégia como “um método de pensamento, uma forma peculiar de avaliar situações que permite classificar e hierarquizar os acontecimentos e depois escolher os processos mais eficazes, trata-se de perceber, de prever, de perspectivar, quando estão em jogo os interesses nacionais e quando nos opõem vontades de outras unidades políticas”. Há “[…] necessidades de falar em conflitos e não apenas em guerra […] e em meios de coação e não apenas em meios militares […]” . Isto quer dizer que a estratégia não ocorre apenas em situações de guerra, mas sempre que se verifique uma dialéctica de vontade, em que o Estado A Procura impor a sua vontade e objectivos ao Estado B, quer em caso de conflito, quer em competição.
A estratégia é orientada para a optimização da acção. A sua vertente de ciência está patente na “[…] formulação de hipótese […] elaboração de teorias, leis e princípios” . Raul François Martins chama a atenção para o problema da “justaposição entre a política e a estratégia, enquanto agentes de aplicação de poder em condições de conflito permanente […]".
A estratégia é um instrumento da política, sendo a ciência e arte de preparar e aplicar o poder para conquistar objectivos vitais para a nação. Amerino Raposo Filho considera a estratégia nacional como “a arte de preparar e aplicar o poder nacional para, superando os óbices, conquistar e manter os objectivos nacionais permanentes, de acordo com a orientação estabelecida pela política nacional".
Abel Cabral Couto estabelece as relações existentes entre a Estratégia e a Política, enquanto ciência e actividade. Enquanto ciência, a estratégia auxilia a formular objectivos, procede a estudos e avaliações interna e externamente, informando a política sobre possíveis ameaças e hipóteses de conflito. Enquanto que a política fixa os objectivos a alcançar. Com base nos mesmos, a estratégia estabelece conceitos de acção, doutrinas de preparação e indica meios e processos para atingir os objectivos. A política, enquanto actividade, escolhe o conceito e o quadro de acção, a estratégia pormenoriza a doutrina escolhida, fixa os objectivos intermédios, emprega e orienta recursos para atingir objectivos .
Compete à estratégia escolher os meios e fixar os objectivos intermédios, empregando e orientando recursos base do poder nacional. A política define o que se pretende. O poder é o que se tem. A estratégia é o que se faz, ou seja, a acção, com o que se tem para o que se pretende.

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