O historiador sanicloense,
Lourenço Gomes, apresentou MONUMENTOS: História e Interpretação -
Centro Histórico da Praia.
Segundo
o autor, “o livro procura transmitir e perpetuar, para a posteridade,
lembranças do passado relacionadas com a zona mais antiga da Cidade da Praia,
através da história e análise descritiva, de variados monumentos:
arquitetónicos, escultóricos e outras criações das artes visuais, inseridos nos
respetivos contextos urbanos”. O autor utiliza, na sua obra bibliográfica, uma
metodologia que pode ser replicada em outros pontos de Cabo Verde.
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Livro
MONUMENTOS: História e interpretação. Fonte: Trabalho do Designer Danilson
Furtado e imagem de capa preparada pela Arquiteta Sília Fonseca.
Para efeitos de proteção de variados monumentos da cidade,
entre as quais aqueles que são objetos de estudo no presente livro, à imagem de
outros
núcleos urbanos de Cabo Verde com relevância sob o ponto de vista histórico e valor de herança cultural,
foi o estatuto de Património Nacional ao Centro Histórico da Praia, através
da Resolução n.º 67/2013 de 17 de Maio, (B.O. n.º 26/2013-I Série).
Esta
medida jurídica identificou um território que acolhe variados bens patrimoniais
no seu seio, referenciados como «obras arquitetónicas e outras composições»,
cientificamente reconhecidos neste livro e, desde há muito, enquadradas na Lei
n.º 102/III/90 de 29 de Dezembro, recentemente revogada.
Assim, legalmente,
está protegido todo o perímetro da zona antiga e respetiva área tampão bem como
todos os monumentos de elevado valor patrimonial aí edificados. Incluem-se,
para efeitos de proteção, outros tipos de heranças culturais tangíveis, como
são as obras decorativas, inseridas nos respetivos eixos urbanos. Em todos os
casos, revestem-se os monumentos estudados neste livro de grande interesse na
sua qualidade de obras de elevado valor estético e técnico bem como enquanto testemunhos
e fontes notáveis para a história local.
O
livro enfatiza, em primeiro lugar, um dos mais antigos aglomerados urbanos da
urbe – o bairro da Ponta Belém, onde se emergiu uma paisagem urbana bem
específica. Esta carateriza-se pela presença, generalizada, no passado, das
chamadas casas baixas ou habitações populares, muitas das quais resistem ao
tempo e mantêm-se bem firmes.
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Exemplar de Casa
baixa ou habitação tradicional – Ponta
Beém. Curiosamente, serviu de residência de Amílcar Cabral nas suas férias
escolares. Fonte: Imagens recolhida por Buk, Fotógrafo da CMP.Este tipo de habitação, em Ponta Belém, a
conviver com edifícios residenciais mais opulentas e mais modernas como, de
resto acontece de modo semelhante, em outras comunidades de Cabo Verde, entre
as quais algumas do Tarrafal de S. Nicolau, representam a simplicidade da vida
das gentes. Reflete, outras vivências do quotidiano como a solidariedade entre
moradores que vem, desde tempos antigos, a ser projetada na atualidade.
O livro, analisa, em capítulo próprio e em
pormenor, o bem arquitetónico de cariz secular - o Mercado da Praia, datado, originalmente, de 1874, mas cujo
formato moderno é de 1924.
| Pormenor revelando a elegância das portas de entrada do Mercado da Praia Fonte: Câmara Municipal da Praia - Relatório do Plano Urbanístico Detalhado do Plateau (1998). |
A caraterística dominante deste mercado, além
da sua dimensão estética, prende-se ao facto de conservar tradições e hábitos
de vida muito antigos e uma simbologia de grande sociabilidade na urbe, além da
sua dimensão estética, traduzida numa obra de rara beleza arquitetónica,
valores estes que ficaram expressos nas recentes intervenções de restauro e
ampliação da edificação.
Dedica
a obra bibliográfica em referência, uma atenção à história e análise de monumentos que, no passado, se afirmaram
como casas senhoriais, conhecidas por sobrados. A descontente de
muitos e em contra-mão com a lei, em alguns casos, muitas das construções deste
tipo integram conjuntos arquitetónicos já descaracterizados, permanecendo,
contudo, as que restam, como singulares referências históricas de um tempo
próspero e de uma dinâmica económica de outras épocas.
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| Fachada de habitação senhorial, já restaurada no alçado principal. Fonte:
Arquivo pessoal, 2008. |
Depois,
presta tributo à classe de obras arquitetónicas civis ou oficiais, incluindo, na descrição e análise ou narração/interpretação, o
belo edifício construído para albergar a antiga Escola Principal situado na Pracinha. Nesta praça, são analisadas outras
construções com relevância histórico-cultural no mesmo eixo urbano oficialmente
denominado, Praça Luís de camões, mas atenção especial é dado a uma simbólica
obra de arte pública decorativa, o busto do D. António Lereno incorporando, a
imagem de mulher comum, de pés descalços, com seu menino, igualmente objeto de
interpretação.
| Monumento escultórico dedicado à causa de saúde em Cabo Verde. Fonte: Arquivo pessoal, 2008. |
Aproximando-se dos capítulos finais, o livro faz a descrição de mais uma
construção civil pública de cariz socio-sanitário, situado na área mais
descaída para o lado nordeste da urbe oitocentista. Referimo-nos ao complexo
hospitalar da Praia (composição central e pavilhões adjacentes), muito antigo,
desde o tempo da vila, esteticamente consolidada e com claras evidências do
neoclassicismo.
| Hospital da Misericórdia da Cidade da Praia. Ilha de S. Thiago de Cabo Verde, concluído em 1859. Fonte: AHU – Publicada por VIEIRA, Henrique Lubrano de Santa Rita (1999). |
Depois do início da construção deste edifício
hospitalar, na sua condição de hospital da misericórdia, em 1840, veio a
impor-se de forma destacada, no outrora Largo da Hospital Velho que hoje
apresenta um ordenamento urbano diferente.
O
penúltimo capítulo dedica-se ao estudo de duas obras arquitetónicas na
Monteagarro – Eixo Norte do Centro Histórico da Praia, respetivamente, de cariz
religioso e educativo, sendo a primeira, que é o edifício da Igreja do
Nazareno, construída em 1947.
Edifício da Igreja do
Nazareno. Fonte: Câmara Municipal da Praia (1998) |
A
outra edificação erguida nessa parte do centro histórico para comemorar os 500 anos
do achamento de Cabo Verde é o antigo Liceu Nacional, designação que pouco
tempo depois, mudou-se para Liceu Adriano Moreira, dois anos depois da sua
conclusão em 1960. Enquadra muito bem o liceu, um monumento escultórico, em forma
de vela, colocado na dianteira do edifício, invocando as características de um
dos meios de navegação quinhentista portuguesa.
Curiosamente,
ostenta uma decoração de interior expressando a finalidade para que foi
construída, no outrora Largo do Chapuset. Este eixo urbano traz uma composição
ornamental também com sentido comemorativo que desperta muita curiosidade pelas
suas representações.
Lourenço Gomes termina o
livro com reflexões que têm com propósito, despertar a consciência de
intervenientes no meio académico e não só, em como o conhecimento nasce da investigação
científica e que esta tem as suas bases metodológicas de procedimento que devem
ser rigorosamente seguidas. A cientificidade na pesquisa requer uma heurística
capaz de dar origem a uma obra bibliográfica desta natureza.
Texto gentilmente cedido pelo autor Lourenço Gomes.